Tuesday, April 18, 2006

DIARIO DE BORDO -rumo á terra do fogo


Dedicado ao meu amigo Jorge - um pinguin das terras quentes do equador.
Hasta luego, amigo Jorge!

04/04/2006
Buenos Aires dormia ainda no lusco-fusco da madrugada quando abri as asas e voei, nao como passaro mas como um pinguim maluco em busca das terras geladas do fim do mundo.
Levantei voo com dificuldade por falta de vento. Subi ao céu e planei por cima da cidade, nostalgica ela e eu pelo abandono. Senti saudades mesmo antes de partir e como a angustia me fazia sofrer aumentei a velocidade. Como Capelo Gaivota, quase me despenhei com uma lágrima no canto do olho.

Fui navegador solitario. Aterrei com a forca do vento patagonico na Terra do Fogo, mas fazia um frio de rachar. O mar ondulava, azulava em Ushuaia. Senti-me atraída pelo magnestismo inexplicável da cidade. Lá ao longe vi uma paisagem multicolor, um bosque de lengas pintadas em tons de vermelho e amarelo pela paleta do Outono. Atravessei o bosque bravio, passei por um cemiterio de arvores , comi com os castores do lago, fiz amizade com um cachorro que era alemao, atravessei o Lago Escondido, cruzei o Lago Fagnano, tao grande como um mar;

Naveguei no Canal Beagle em busca de ilhas de lobos marinhos e atraquei numa ilha de pinguins. Aí me prendi a um amigo - Jorge era un pinguin que vinha das terras quentes do equador mas partilhava comigo os mesmos ideais. Mergulhamos juntos no ar, entramos no bosque para comer pan de Indio e bolinhas vermelhas de calafate, subimos ä montanha gelada, montados em cadeiras voadoras, em busca de um Glaciar Martial. Fomos apanhados no meio de uma tempestade de flocos brancos e "esso es lo peor que puede pasar a un pingüino" . Descemos á cidade num escorrega gigante como duas crias e paramos num bar a beber chocolate quente com medias lunas e uma dose grande de boa conversa.
Encontrei muitos pinguins nesta minha viagem de navegador solitário. Com eles partilhei emocoes fortes, ventos e tempestades, conversa a metros, um dia, uma hora. Mas Jorge foi um pinguin especial. Sob o céu de Ushuaia nos despedimos com o coracao apertado como acontece aos amigos de longa data. Nos olhos bailaram-nos gotas de agua, salgada pela incerteza de um reencontro.

Viajar só tem esta coisa gostosa - sempre se podem encontrar pinguins de todos os lados do mundo.
Mas, se o mundo é redondo só nos sobra um lado para viver?! Será tao fácil um reencontro!

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